Com base em dados de 2022, o Brasil gerou aproximadamente 81,8 milhões de toneladas de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU), o que corresponde a 224 mil toneladas diárias. Isso significa que cada brasileiro produziu, em média, cerca de 1,043 kg de resíduos por dia. A destinação final adequada desses resíduos é um desafio para o país, com aterros sanitários recebendo a maior parte dos RSU coletados (cerca de 46 milhões de toneladas em 2020), enquanto áreas de disposição inadequada, como lixões e aterros controlados, ainda recebem quase 40% do total de resíduos coletados.
Nesse contexto, a URE se destaca como uma solução inovadora e ambientalmente responsável. A usina utiliza um processo de gaseificação em baixa temperatura, atingindo até 450°C, para transformar os resíduos sólidos em "SINGÁS", um gás que é posteriormente convertido em energia elétrica por meio de turbinas ou motores, dependendo da altitude da região, visando otimizar a eficiência energética.
A planta possui um sistema de ciclo fechado, em que toda a energia e vapor necessários para o processo são produzidos internamente, tornando-a autossuficiente em suas operações. Além disso, a usina inova ao produzir óleo combustível (diesel verde) utilizando parte do material orgânico do lixo, bem como podas de árvores e bagaço de cana, entre outros. O óleo produzido é de alta qualidade, correspondente ao diesel S-10 usado no Brasil, sem enxofre e metais, com caloria 5% acima do diesel convencional, sendo reconhecido na Europa como "S 5".
A URE também demonstra um compromisso com a sustentabilidade alimentar, uma vez que abrigará uma grande estufa para produção de alimentos orgânicos de primeira qualidade. Com controle preciso de umidade, luz e nutrientes, e com injeção de CO2 para acelerar a fotossíntese das plantas, essa estufa se tornará uma fonte importante de alimentos saudáveis para a comunidade e trabalhadores, incluindo aqueles que antes dependiam de lixões e cooperativas.
Outro aspecto significativo é a geração de Créditos de Carbono pela URE, decorrente da substituição da energia produzida a partir de combustíveis fósseis por energia gerada a partir do lixo, bem como a reduçãodas emissões de CO2 no transporte dos resíduos. A usina pode ser instalada nas proximidades do município ou da comunidade, reduzindo assim a pegada de carbono relacionada ao transporte.
Essa geração de Créditos de Carbono é regulada pelo RenovaBio, resultado da Lei nº 13.576 de 2017, que inclui a Política de Biocombustíveis na Política Energética Nacional. O RenovaBio tem como objetivo cumprir os compromissos do Acordo de Paris, reconhecendo o papel estratégico dos biocombustíveis, como o biodiesel e o etanol, na redução das emissões de gases de efeito estufa.
Com a implantação da URE, Parauapebas se coloca na vanguarda da gestão sustentável de resíduos sólidos no Brasil. Além dos benefícios ambientais, como a redução da disposição inadequada de resíduos e a geração de energia limpa, a usina também traz vantagens econômicas significativas para a região.
A produção de óleo combustível de alta qualidade abre oportunidades para novos negócios, como a venda desse diesel verde para o mercado local e a exportação para outras regiões. Estima-se que a usina seja capaz de produzir 1.400 litros de diesel por hora, impulsionando a economia local e gerando empregos diretos e indiretos.
Além disso, a geração de Créditos de Carbono permite que a usina participe de programas de compensação e venda desses créditos no mercado nacional e internacional, o que pode representar uma importante fonte de receita para o município. Com a crescente preocupação global com as mudanças climáticas, os Créditos de Carbono têm se tornado um ativo valioso, e a URE de Parauapebas poderá se beneficiar dessa tendência.
Em suma, a implantação da Usina de Recuperação de Energia em Parauapebas representa um avanço significativo na gestão de resíduos sólidos e na transição para uma economia mais sustentável. Além de resolver problemas relacionados à destinação inadequada de resíduos e emissões de gases de efeito estufa, a usina traz oportunidades econômicas importantes para a região, impulsionando o desenvolvimento local e contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas.