Tragédia em Nhanderu Marangatu: estado brasileiro e a brutalidade contra Povos Indígenas

Indígena Guarani Kaiowá morto na TI Nhanderu Marangatu em ação policial realizada na manhã desta quarta-feira (18). Foto: povo Guarani Kaiowá

Nesta quarta-feira, 18 de setembro, uma tragédia se abateu sobre a Terra Indígena (TI) Nhanderu Marangatu, localizada no município de Antônio João, Mato Grosso do Sul. O jovem Neri Guarani Kaiowá foi fatalmente atingido por tiros durante um violento ataque à retomada de terras indígenas na Fazenda Barra, uma área sobreposta à Terra Indígena. Além da morte de Neri, uma mulher também foi ferida na perna por disparos, e os barracos dos indígenas foram destruídos.

A violência teve início na madrugada e se intensificou pela manhã. Informações indicam que a Polícia Militar não apenas realizou o ataque, mas também arrastou o corpo de Neri para uma área de mata, afastando-o da vista dos outros indígenas que tentaram se aproximar. Este ato gerou ainda mais revolta entre os Guarani Kaiowá, resultando em novos confrontos. A Força Nacional, que poderia ter atuado na situação, não estava presente na área.

O contexto do ataque é marcado por uma crescente tensão na região. Na sexta-feira, 13 de setembro, a comunidade Guarani Kaiowá recebeu a visita da Missão de Direitos Humanos do Coletivo de Solidariedade e Compromisso aos Povos Guarani, que percorreu o oeste do Paraná e o Mato Grosso do Sul, visitando as áreas afetadas pela violência. A presença da missão parecia ter antecipado a escalada de ataques, que já haviam ocorrido em 12 de setembro, quando três indígenas foram baleados pela Polícia Militar na mesma área.

Denúncias apontam que atiradores "mercenários" estariam acompanhando a Polícia Militar durante o ataque. Esta prática não é inédita: em 2022, o indígena Vitor Fernandes Guarani Kaiowá, de 42 anos, foi morto durante um ataque policial em Amambai, e seu corpo precisou ser exumado para uma nova perícia, evidenciando uma triste sequência de práticas violentas e encobrimento.

A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) expressou profundo pesar e indignação pelos ataques. Em nota, a Funai confirmou o assassinato de Neri e informou que já acionou a Procuradoria Federal Especializada (PFE) para que todas as medidas legais cabíveis sejam tomadas. A instituição também está em diálogo constante com a Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso do Sul e outras instâncias para garantir a proteção dos indígenas e assegurar que a violência cesse imediatamente.

Em uma reunião realizada na terça-feira, 17 de setembro, a Funai discutiu com várias autoridades sobre a situação crítica e solicitou a presença constante da Força Nacional na área. A Fundação reitera seu compromisso em proteger os direitos e a segurança dos povos indígenas e promete continuar mobilizando esforços para enfrentar a grave situação.

O massacre em Nhanderu Marangatu é mais uma demonstração da brutalidade enfrentada pelos povos indígenas no Brasil, que lutam há décadas pela preservação de suas terras e direitos. A ação das autoridades e a resposta das instituições responsáveis serão cruciais para determinar os próximos passos e buscar justiça para as vítimas dessa violência terrível.

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