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Foto: saaep.com.br |
Estudo aponta município do Pará como o quinto pior do Brasil para mulheres; reportagem analisa a situação da mulher do campo e as iniciativas recentes de enfrentamento à desigualdade e à violência de gênero
O estudo “Piores Cidades Para Ser Mulher (2024)”, realizado pela consultoria Tewá 225, revelou que Parauapebas (PA) ocupa a quinta posição entre os piores municípios brasileiros para se viver sendo mulher. A pesquisa analisou 319 cidades com mais de 100 mil habitantes, levando em conta critérios como desigualdade salarial, representatividade feminina no legislativo, taxa de mulheres jovens fora da escola e do mercado de trabalho e feminicídios.
A desigualdade de gênero na cidade se acentua nas zonas rurais, onde vivem muitas mulheres em condições de vulnerabilidade social, com pouco acesso a serviços públicos, trabalho digno e políticas de proteção. Apesar da força da mulher do campo em atividades agrícolas e de subsistência, sua participação nas decisões econômicas e políticas locais ainda é limitada.
Economia concentrada na mineração e pouca valorização da agricultura familiar — Parauapebas possui uma economia fortemente centralizada na mineração. A Vale S.A. opera o Complexo Minerador de Carajás, um dos maiores do mundo na produção de minério de ferro. Em 2024, o complexo produziu 177,5 milhões de toneladas, e a empresa confirmou investimentos de R$ 70 bilhões até 2030, com a meta de ampliar tanto a produção de ferro quanto de cobre.
Além da mineração, os setores de comércio, serviços e construção civil também cresceram nos últimos anos. Em janeiro de 2025, o Pará registrou mais de 4 mil novas empresas abertas em apenas 13 dias, com destaque para esses setores, segundo a Junta Comercial do Estado (Jucepa).
Por outro lado, a atividade agrícola no município ainda é pouco expressiva, embora esteja presente nas pequenas propriedades familiares, sobretudo nas regiões periféricas e rurais. Em 2025, a prefeitura anunciou programas de mecanização agrícola voltados para mais de 2 mil famílias rurais, mas os investimentos ainda são incipientes diante da dimensão da desigualdade de gênero no campo.
Mulheres rurais: trabalho invisibilizado e acesso limitado a direitos — As mulheres do campo em Parauapebas enfrentam barreiras históricas, como a sobrecarga no trabalho doméstico e rural, falta de acesso à terra, crédito agrícola, assistência técnica e educação formal. As distâncias geográficas somadas à ausência de serviços públicos tornam a denúncia de violência doméstica ainda mais difícil nessas regiões.
Mesmo com o avanço de programas voltados à agricultura familiar, muitas dessas mulheres não têm suas vozes ouvidas nos espaços de decisão política ou produtiva, perpetuando um ciclo de desigualdade que se conecta diretamente com os dados levantados pela Tewá 225.
Avanços legislativos: políticas de proteção e autonomia feminina
Diante da gravidade da situação, duas iniciativas legislativas importantes foram aprovadas pela Câmara Municipal de Parauapebas em 2024:
Diante da gravidade da situação, duas iniciativas legislativas importantes foram aprovadas pela Câmara Municipal de Parauapebas em 2024:
No dia 30 de abril, foi aprovado o Projeto de Lei nº 25/2023, de autoria do vereador Elias da Construforte (PV-PA), que institui o Observatório da Violência contra a Mulher. O objetivo é criar um banco de dados oficial com todas as notificações de violência registradas no município, subsidiando ações e políticas públicas mais eficazes.
Em 18 de março, foi aprovado o Projeto de Lei nº 22/2024, proposto pelo vereador Zé do Bode (União-PA), que cria o Programa “Reinventar”, voltado ao incentivo à autonomia econômica de mulheres em situação de violência, com cursos de qualificação profissional e apoio à inserção no mercado de trabalho.
Essas medidas, ainda que importantes, precisam ser integradas a uma política pública de longo prazo que inclua as mulheres rurais como protagonistas da transformação social.
Essas medidas, ainda que importantes, precisam ser integradas a uma política pública de longo prazo que inclua as mulheres rurais como protagonistas da transformação social.
Uma cidade rica em recursos, mas carente de justiça de gênero — Parauapebas, embora seja uma das cidades mais ricas do Pará, carrega em seus territórios rurais e urbanos marcas profundas da desigualdade de gênero. A exclusão das mulheres, especialmente das que vivem no campo, do processo de desenvolvimento econômico local precisa ser urgentemente enfrentada com ações concretas, intersetoriais e contínuas.
A inclusão produtiva da mulher rural, a criação de redes de proteção e apoio, a ampliação da presença feminina na política e o fortalecimento da agricultura familiar são caminhos necessários para reverter esse cenário.
A inclusão produtiva da mulher rural, a criação de redes de proteção e apoio, a ampliação da presença feminina na política e o fortalecimento da agricultura familiar são caminhos necessários para reverter esse cenário.